“Nada feito, ele terá que voltar para o Brasil”
Sai quase que flutuando da sala em direção a rua. Desci as escadas sem conseguir pronunciar uma palavra sequer. Vestimos os casacos e ao sairmos pela porta do prédio me senti voltando a superfície depois de um mergulho e como uma criança que quase se afogou eu abri o bocão e comecei a chorar e contar tudo, andando a passos largos, gesticulando e falando alto. Bem latina. Bem descontrolada. E o povo que passava por nós bem sem entender.
Nos sentamos numa pracinha perto da estação de trem para bolar o plano B, C…
Ele continuava com aquele discurso otimista dizendo que tudo daria certo. Afinal, tudo já tinha dado certo e sempre nos 45 do segundo tempo, né?
Chegamos em casa e enquanto ele pesquisava os preços de voos para fora da União Europeia me veio a necessidade de conferir a data de retorno da passagem para o Brasil. Dia 08 de novembro.
Bocão da Royal poderia ser meu novo nome.
Ele não aceitou e me fez ligar na companhia aérea para verificar o preço de alteração de passagem. 450,00 Euros.
Todos os planos envolviam gastar um valor exorbitante que a gente nem tinha!
Interrompi uma ligação que ele estava fazendo e disse “você vai ter que voltar amanhã a noite”.
Acho que até as plantas da sala choraram naquele momento.
No meio daquela melancolia eu conseguia repetir “Tem um propósito, Deus sabe o que faz, isso tudo tem um porquê”.
Adormeci aos prantos e no dia seguinte fomos comprar umas lembranças para as crianças. Quando chegamos em casa para fazer as malas o vizinho aposentado estava na rua e ao nos cumprimentar cheio e alegria a Latina aqui não se segurou e contou a situação sem nenhum autocontrole das vias lacrimais.
Ao longo do dia a gente se revezava. Hora eu chorava e ele me consolava, hora ele chorava e eu o consolava.
Fiz questão de ir até o aeroporto com ele. Vi ele entrar na área de embarque e caminhar até sumir. Fiz cara de forte, sorri, disse que seria ótimo para ele no Brasil até ele poder voltar mas quando eu dei as costas e encarei Viena novamente o meu coração se encheu de dúvidas.
Sem minhas filhas, sem marido, recém desempregada, será que não teria sido melhor voltar para o Brasil também?
O modo piloto automático me guiou para pegar o trem certo e me levou até a porta de casa. Sai do transe e abri a porta daquela casa enorme, escura, e fria. Corri escada acima e entrei no que era o nosso quarto, me ajoelhei aos pés da cama, desmoronei em pranto e conversei em voz alta com Deus. Eu não perguntei porque, nem pra quê, nem quando as coisas se resolveriam.
Depois de muito me lamentar veio um pedido: “Deus, cuida de mim porque eu já não consigo mais!”, assim eu entreguei os pontos naquela noite até adormecer.
Mais uma vez com dinheiro contado eu olhava pela janela sem saber o que fazer.
Tínhamos combinado de ir almoçar num restaurante típico com o casal de vizinhos aposentados (o mesmo que eu havia dado a notícia) muito antes de sabermos que um de nós não estaria presente. O dia chegou e apesar de estar sem vontade de sair da cama eu fui, é feio cancelar os compromissos aqui.
No restaurante o casal contava a todos os 13 convidados sobre a minha situação, eu mal entendia enquanto eles revezavam alemão com dialetos locais. Queria enfiar a cara no chão de tanta vergonha. Eles me faziam perguntas e como eu não entendia bem nem conseguia responder direito aproveitei pra manter a boca ocupada com o ganso que estava sendo servido.
Quem disser que comida não conforta é por que nao comeu o suficiente. Eu já estava preocupada da calça jeans terminar de rasgar quando chegou vinho para todos, depois sobremesa, café, licor e o povo, graças aos óculos embaçados, parecia me ver bem desnutrida e insistiam para eu comer mais.
Resultado? A calça realmente terminou de rasgar.
Olá Milena, Menina quantas histórias. A cada leitura fico querendo mais e mais. Que escrita agradável. Lembro de nossos papos, você sempre sorridente, confiante e com muitas histórias. Querida tenha fé, confia em Deus e como você mesmo tem comprovado – Ele quer sempre o melhor e tem te auxiliado em todos os momentos. Saudades, fique com Deus. beijos
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Que mensagem linda e motivadora! Muito obrigada, Claudinha Leite! Espero ainda retomar nossos papos e risadas! Quem sabe do lado de cá dessa vez? Saudades! Bjoooo
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Gatona não sabia dessa… Mas..
Como sempre, tudo vai dar certo. Bjs
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Sempre dá 😉😘😘
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“Milaina”, você é uma fortaleza. Deus está apenas te provando isso. Nunca mais duvide de você, pois você é capaz de conquistar esse mundo todo. Eu estou daqui na torcida por você sempre. Abraço no seu ❤️!
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Obrigadão, Celaina! Quero te contar tanta coisa 🤗😚
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E como ficou com seu marido? Ele conseguiu voltar do Brasil? Que história incrível
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